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Do anonimato ao vício

O campus de Gualtar, da Universidade do Minho, está calmo. Há poucos estudantes a ir para as aulas, reflexo do ensino online. Dentro da Escola de Psicologia, os corredores estão vazios e o silêncio ecoa no ar. Das poucas vozes presentes, sobressai-se a de Rui Abrunhosa Gonçalves, psicólogo forense, doutorado em Psicologia do Comportamento Desviante. 

 

 

 

 

 

 

Sentado no banco de jardim, compreende a posição dos consumidores, quando afirmam que a Internet trouxe o “uso ilimitado”. Para o psicólogo, isto deve-se ao constante “material renovado” com a vantagem do “anonimato”. “Antigamente, as pessoas tinham de se deslocar a um determinado sítio, como as sexshop, expunham-se e esse material esgotava-se no ato”, salienta.

 

Nova era, novos desafios. Num estalar de dedos, qualquer um pode estar num site porno. Da curiosidade à “procura de apimentar a sexualidade”, os motivos que levam as pessoas a consumir pornografia são vários e “sempre existiram”. “Não é crime, nem tinha de o ser”, reforça Rui Abrunhosa Gonçalves. O problema é quando a exposição a esses sites ultrapassa o “ocasional e torna-se compulsivo, algo sem o qual uma pessoa não consegue passar". 

 

O adiamento de tarefas e a desmarcação de compromissos são alguns dos indícios de que se pode estar a ficar viciado. “É como um aluno não estudar o tempo que devia, ou faltar às aulas por ficar até tarde a ver pornografia”, elucida. Entre muitos outros fatores inclui-se o tempo que se gasta neste ato e os impactos na convivência social. Individualmente é possível aferir de que lado da linha se está, até porque às vezes os consumidores não se apercebem que estão a ficar viciados.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Ao contrário da droga, não temos nenhuma substância química, logo trata-se de uma dependência de caráter psicológico”. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que se veja os casos de vício como uma perturbação do comportamento sexual compulsivo. Rui Gonçalves afunila a designação e classifica-a como uma Perturbação do Controlo de Impulsos, ou seja, não se consegue controlar a ânsia “para ir fazer aquilo”. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Há uma certa solidão inerente a quem vê, onde as pessoas “se incomodam a elas próprias", acabando por criar situações difíceis de gerir, tanto a nível íntimo como familiar. Exemplo disso é abdicar de tempo com a família ou querer imitar no sexo aquilo que vêem no porno, podendo “estragar as relações”.

Pedro e Leonor já sentiram que o tempo que despendiam a ver sexo começou a roçar o vício, porém a gestão do hábito levou-os a uma moderação necessária. A lisboeta conta que, nos primórdios da internet, fez uma pesquisa maior,  “como qualquer novidade, onde há muita coisa para explorar”. Feita a adaptação ao on-line, e sabendo o que lá vai encontrar, a procura tornou-se “normal”. É também com um “não” convicto  que o lousadense afirma nunca ter sentido dependência de algo “não saudável”. Cabe à própria pessoa “ter a noção e o cuidado de não cair num ciclo vicioso”.

Apesar do consumo desmedido conduzir ao vício, muitas pessoas procuram ver estes conteúdos para se sentirem bem com elas próprias. Prova disso são os dados revelados, em 2020, pelo Centro de Bem-Estar Sexual da Pornhub. Desde o lançamento, em 2017, mais de 40 milhões de pessoas já visitaram esta extenção do site de pornografia. Independentemente das idades, homens e mulheres de todo o mundo procuram conhecer os segredos do corpo e obter informação sobre relacionamentos e saúde. As prioridades da procura vão variando consoante o sexo. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

De acordo com os dados, o sexo feminino está mais interessado em tópicos que exploram a sexualidade, enquanto que o masculino tenta combater inseguranças. Olhando para o vício como a face obscura da pornografia, mas sem esquecer as vantagens que traz, as pessoas têm de entender que ver porno pode “causar adição e problemas graves”. Por isso, é preciso ser cauteloso e “saber em que grau se está nessa perturbação aditiva”.  

Sendo ou não viciado, quem vê pode não reconhecer o trabalho de quem expõe o corpo para a satisfação dos outros. Do outro lado do ecrã existe uma indústria que faz do sexo um ganha-pão.

Tópicos mais procurados no

Centro de Bem-Estar Sexual

Fonte: Pornhub

Rui Abrunhosa Gonçalves

O trabalho de Rui Abrunhosa Gonçalves foca-se na pornografia infantil

Quizz baseado nas declarações de Rui Abrunhosa Gonçalves

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